Por que o Brasil deveria se envolver mais com o Oriente Médio?

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[Foto: Internet]
Entre 27 de fevereiro e 6 de março, o Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, realizou a sua primeira viagem oficial do Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes ao Oriente Médio. Na ocasião, o chanceler visitou Israel, Palestina, Líbano e Jordânia, onde buscou se reunir com autoridades políticas locais a fim de debater temas de interesse brasileiro, sobretudo ligados a questões econômicas, tendo em vista os estreitos laços comerciais que o Brasil possui com os países da região.
A viagem, no entanto, serviu também para ressaltar o potencial que o Brasil pode ter no que tange às questões políticas do Oriente Médio, sobretudo para os próximos anos. Com o reconhecimento por parte do governo estadunidense de Jerusalém como capital de Israel e a promessa do governo Trump de mudar a embaixada dos EUA ainda este ano, autoridades palestinas têm apontado para a necessidade de um novo intermediador para as negociações de paz. Para a Autoridade Palestina, a atitude dos EUA de reconhecer Jerusalém como capital israelense antes da retomada de qualquer negociação de paz entre as duas partes do conflito, aponta para o viés da atual administração americana, a qual estaria considerando apenas os interesses israelenses, em detrimento dos direitos dos palestinos.
Nesse sentido, o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, propôs ao chanceler brasileiro a realização de uma conferência no Brasil, ainda em 2018. O objetivo seria dar continuidade às negociações de paz com Israel, tendo como novo mediador o país da América do Sul. Diante disso, vale a pena ressaltar o papel que o Brasil tem desempenhado com relação ao Oriente Médio.
O primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar a região foi Dom Pedro II, em 1871 e depois, em 1876. As duas viagens foram de cunho pessoal, sem interesses políticos. Nelas, o Imperador passou por Beirute, Cairo e Jerusalém, cidades que na época ainda integravam o Império Otomano. Apesar do caráter não oficial das viagens, elas contribuíram de modo significativo para uma maior aproximação entre brasileiros e médio-orientais, uma vez que fomentou a vinda de um grande número de sírios e libaneses ao Brasil. Os quais, fugindo de crises econômicas e perseguições políticas e religiosas, trouxeram grandes contribuições à formação da sociedade brasileira. Contribuições essas que podem ser percebidas não apenas no âmbito da literatura e da economia, mas, sobretudo, da política. Cerca de 8% dos parlamentares brasileiros são de origem libanesa e até mesmo o atual presidente e ex-parlamentar, Michel Temer. Estima-se que hoje haja mais libaneses vivendo no Brasil do que próprio Líbano.
Com relação ao conflito árabe-israelense, novamente o Brasil também desempenha um papel significativo. Foi por meio do voto ex-chanceler Oswaldo de Aranha que a Resolução 181 foi aprovada em novembro de 1947 pela Assembléia Geral da ONU. O documento previa a criação de dois Estados na região da Palestina, um de maioria árabe e outro de maioria judaica, postura mantida até hoje pelo governo brasileiro. Em conseqüência disso, o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer o estado de Israel, em 1949 e participou, entre 1956 e 1967, da força de paz da ONU na região do Suez a fim estabelecer um cessar fogo entre Egito e Israel. Mais recentemente, em 2004, o governo brasileiro abriu o seu escritório de representação na Palestina e, em 2010, reconheceu a Palestina como um Estado soberano. Em 2007, foi convidado tanto por palestinos como por israelenses a participar da Conferência de Annapolis, nos EUA. Por fim, desde 2011, a marinha brasileira tem integrado as forças de operação de paz da ONU na manutenção do cessar fogo entre Israel e o Líbano.
Dessa forma, como afirma o Embaixador brasileiro Sérgio Eduardo Moreira Lima, por meio desses fatos fica claro o interesse nacional brasileiro em sua política externa para com o Oriente Médio. Logo, um maior envolvimento do Brasil com os países médio-orientais no contexto atual poderia ser benéfico tanto para a resolução dos conflitos na região como para a própria imagem internacional do país, abalada nos últimos anos devido às crises internas.
O Brasil, além de ter a confiança da Autoridade Palestina por meio de acordos de cooperação e da assistência aos refugiados palestinos, também tem melhorado as suas relações com Israel. Apesar dos embaraços diplomáticos entre as duas nações durante o governo Dilma, a visita recente do Ministro das Relações Exteriores parece ter fortalecido os laços bilaterais. Isso pode ser percebido no anúncio da visita do Primeiro Ministro israelense Benjamim Netanyahu ao Brasil ainda esse ano. Essa reaproximação tende a não ser modificada mesmo após as eleições presidenciais brasileiras, em outubro, tendo em vista os posicionamentos políticos dos candidatos à presidência até o presente momento, no que diz respeito ao assunto.
Para isso, é imprescindível que o país continue a tentar manter uma postura de diálogo com todos os lados. Isso implica em rejeitar as sugestões dos líderes da Autoridade Palestina em aderir ao movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções contra Israel e repensar o apoio, nos fóruns multilaterais, a algumas sanções e resoluções contra o Estado judeu. Ao mesmo, no entanto, deve insistir em sua postura histórica de defesa da criação dois Estados soberanos e não ignorar os efeitos negativos da ocupação israelense dos territórios palestinos, a qual já perdura por 70 anos.
A tendência é que, ao fazer isso, o país seja capaz de firmar ainda mais acordos de bilaterais de cooperação, tanto com o Estado judeu, como com os países árabes; o que resultaria em ganhos para o Brasil. Além disso, o habilitaria a se envolver de forma mais ativa em outras questões regionais do Oriente Médio, como a Guerra Civil Síria e a crise humanitária no Iêmen.
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Por Igor Sabino – Secretário executivo do ANAJURE Refugees

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