Liberdade Religiosa para Todos l Artigo e entrevista com o Dr. Knox Thames, Diretor de política e pesquisa da USCIRF

A United States Comission on International Religious Freedom (USCIRF) é um órgão federal do Governo americano que é suprapartidário e independente, tendo sido criada pela Lei de Liberdade Religiosa Internacional de 1998 com o objetivo de promover a liberdade religiosa em todo mundo.

 

knox(2)Liberdade Religiosa para Todos

 

O artigo “Novo movimento: Liberdade Religiosa para Todos” foi escrito pelo jurista americano Knox Thames e publicado no último mês de julho. No artigo, Thames encoraja cristãos em todo o mundo a lutar pela liberdade religiosa para todas as pessoas que sofrem perseguição religiosa independente de sua crença.

Knox Thames é diretor de política e pesquisa da Comissão Internacional de Liberdade Religiosa dos EUA e apresenta, há anos, a preocupação com a crescente onda de violações contra cristãos e não-cristãos em diversos países da Europa, África e Oriente Médio. Apesar da brilhante atuação na Comissão internacional, o jurista não quis envolver o nome da organização no artigo e na entrevista que concedeu à ANAJURE, pois afirma que escreveu de forma independente.

De acordo com o artigo de Thames, a igreja cristã não seria destruída pela perseguição e continuaria existindo, porém, com a conquista da liberdade religiosa para todas as minorias perseguidas, a igreja cristã teria mais sucesso em seu crescimento nos países que hoje são líderes de perseguição.

Abaixo, o artigo de Knox Thames traduzido e a entrevista exclusiva concedida à ANAJURE.

 

Um novo movimento: Liberdade religiosa para todos

A liberdade religiosa está sob ataque internacionalmente. Estudos recentes indicam que 75% da população mundial vive em países que restringem o livre e pacífico exercício da religião. Neste contexto, cristãos de todas as denominações sofrem com repressão e violenta perseguição. Eles não estão sozinhos – pessoas de diferentes crenças e sem religião também são alvos por causa de sua religião ou a falta dela. Todos os dias, milhões de pessoas ao redor do mundo enfrentam repressão, violência e a ameaça de morte.

Responder aos ataques à liberdade de religião será o desafio do século 21. Situação de repressão religiosa gera instabilidade e fomenta o extremismo, enquanto ameaçam outros direitos fundamentais como o de expressão e associação. Métodos passados de advocacia não são mais suficientes, já que governos abusivos e grupos extremistas reprimem os indivíduos de praticarem a sua fé através da violência. Vidas estão em jogo e o tempo não é um luxo.

Em resposta, cristãos devem levantar um novo movimento, trazendo um foco urgente sobre a liberdade religiosa internacional para todos, tanto os membros da nossa própria fé quando aqueles ligados à outras religiões. Liberdade religiosa para todos em todo lugar deve ser a prioridade para a igreja global.

Na sua essência, a liberdade religiosa é liberdade de pensamento – liberdade de questionar; liberdade de procurar a verdade definitiva; a liberdade de crer ou não crer em Deus ou em um poder superior. A liberdade religiosa é parte essencial da experiência cristã.

As normas internacionais de proteção à liberdade religiosa ou de crença surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando a comunidade internacional estabeleceu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Surgindo sobre as cinzas do Holocausto, a Declaração foi um marco para a comunidade global, sendo a primeira vez na história que os direitos intrínsecos de cada indivíduo foram reconhecidos para o triunfo do poder do estado.

O artigo 18 da Declaração Universal é o texto chave para a liberdade religiosa. A Declaração é um padrão pelo qual todas as nações são medidas. Ele declara:

Todas as pessoas têm liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, e liberdade, seja sozinha ou em comunidade com outros no público ou privado, de manifestar essa religião ou crença em ensino, prática, cultos e observância.

Sob o Artigo 18, o direito de um indivíduo de manter alguma crença está protegida, seja ele teísta, deísta, politeísta ou ateu. O artigo reconhece a liberdade de acreditar em Deus ou não, bem como a capacidade de adorar, pregar um sermão, compartilhar a palavra e educar as crianças. Ele mostra como a liberdade religiosa é a única entre os direitos humanos a ser completamente respeitada quanto outras liberdades fundamentais que devem ser protegidas – liberdade de expressão, liberdade de reunião e liberdade de movimento.

Então por que os cristãos se preocupam com a liberdade de outras religiões? Se a igreja está sob ataque, não deveríamos primeiro cuidar de nossa própria causa?

Certamente os cristãos precisam de uma maior consciência sobre os nossos irmãos e irmãs perseguidos no exterior. Muitas vezes seu sofrimento passa despercebido. Uma esperança de desenvolvimento foi a recente assinatura de um compromisso por 175 líderes religiosos cristãos através das linhas denominacionais sobre cristãos perseguidos no Egito, Iraque, e Síria. A situação dos cristãos é terrível nestes países  e merece atenção. Mas estes não são os únicos lugares onde o corpo de Cristo sofre – basta olhar para o Sudão, Paquistão, Nigéria e China para citar alguns.

Além de olhar interiormente, devemos olhar para o exterior. Os seguidores de Cristo são chamados para amar o próximo como a si mesmos, então o sofrimento de pessoas de diferentes crenças deve importar tanto quanto. A Bíblia está repleta de chamadas para ajudar nossos semelhantes. E enquanto não se usa termos contemporâneos de direitos humanos, a Bíblia fala a estes no âmbito da justiça e da misericórdia, bem como o amor ao próximo.

Por exemplo, Miquéias 6:8. Ele declara: “Ele te declarou ó homem, o que é bom. E o que o Senhor requer de ti? Buscar a justiça e amar a misericórdia e andar humildemente com teu Deus”. A chamada para buscar a justiça é um apelo universal.

No Novo Testamento, particularmente instrutivo na parábola do Bom Samaritano em Lucas 10, Jesus fala a uma multidão e um advogado o testa perguntando como pode ter a vida eterna. Não facilmente perplexo, Jesus transforma a questão e pergunta “o que está escrito na lei?” o Homem responde “amar ao senhor teu deus de todo Coração e com toda a tua alma e com toda a sua força e com toda a sua mente e ao próximo como a si mesmo”. Jesus disse que ele estava correto.

Ainda o advogado (como advogados hoje) simplesmente não conseguia parar. Ele fez uma nova pergunta – “Quem é o meu próximo?” Jesus respondeu contando uma parábola do Bom Samaritano. Em um trecho conhecido um viajante é atacado por ladrões que o deixam prestes a morrer. As próximas duas pessoas que passaram pelo mesmo caminho eram sacerdotes e estes passaram pelo outro lado e não ajudaram.

Como sabemos, o herói é a terceira pessoa que vinha no caminho, o samaritano. Jesus disse que ele foi paro o viajante e enfaixou suas feridas. Para os ouvintes do dia, foi uma reviravolta surpreendente pois os samaritanos seriam a última opção para o “outro”. Eles eram considerados religiosa e etnicamente diferentes. Judeus e samaritanos se odiavam e andariam milhares de quilômetros fora do seu caminho para evitar outras comunidades.

Jesus concluiu a parábola perguntando: “qual destes três foi o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?”. O expert na lei respondeu: “o que usou de misericórdia para ele”, e Jesus disse a todos: “vai e proceda de igual modo”.

Desta e de outras passagens, há um claro chamado aos cristãos para servir ao lado dos oprimidos como demonstração do amor incondicional de Deus a todos os homens,  independente de suas crenças. Com base nesta admoestação, devemos trabalhar pela liberdade religiosa – trabalho para os perseguidos – sejam cristãos ou ateus, mulçumanos ou algum outro.

Existe uma comunidade de sofrimento e isso não se limita a outros crentes. Em muitos lugares onde a igreja está enfrentando pressões incríveis, os cristãos não estão sozinhos. Os governos autoritários e extremistas são opressores nas mesmas oportunidades, o que significa que quando cristãos são perseguidos, também o são os outros grupos e, as vezes os outros grupos sofrem mais.

No momento, veja para o Irã. O regime é especialmente pesado para as minorias religiosas como cristãos, bahais e muçulmanos sufis. Tem havido muita atenção para o pastor Saeed Abedini e com muita razão. No entanto, a comunidade Bahai, a maior minoria religiosa não-muçulmana no Irã, há muito tem sido objeto de graves violações de liberdade religiosa. O governo enxerga Bahais como “hereges” e, consequentemente, eles enfrentam repressão em razão da apostasia. Existe mais de 100 bahais na prisão. A Igreja mundial deve falar por eles  e outros na comunidade de sofrimento.

Trabalhar para a liberdade religiosa para todos é responder ao chamado bíblico, mas também aborda uma necessidade prática para o futuro da igreja. Os cristãos vão lutar onde a liberdade religiosa para todos não existe, especialmente em países onde eles são minorias.

Quando os governos ou sociedades estabelecerem ruas estreitas do pensamento permissível, a igreja pode sobreviver, mas ele não vai prosperar. Ambientes onde as pessoas de qualquer persuasão são livres para buscar a verdade final são ambientes onde o cristianismo pode prosperar. Em outras palavras, para realmente ajudar os cristãos a gozarem de liberdade religiosa e um futuro seguro, todo mundo em um país deve gozar de liberdade de religião e crença.

Então o que fazer?

Os heróis da fé cristã definiram um patamar elevado, arriscando suas vidas para ajudar os nossos irmãos e irmãs. Isso deve continuar, no entanto, à luz das crescentes violações da liberdade religiosa, precisamos de uma abordagem ampliada, aquela em que a igreja leva um novo movimento que defende para todos. Como ouvimos na parábola do Bom Samaritano, os cristãos são chamados para ajudar nossos vizinhos, independentemente de fé ou credo. Trabalhar para a liberdade religiosa para todos irá demonstrar que os cristãos não estão apenas preocupados com eles mesmos, mas estão vivendo o chamado de Cristo para amar o próximo.

A Igreja Mundial está a trabalhar de forma holística em outros contextos. A igreja tem um histórico admirável de auxiliar pessoas necessitadas, independentemente da fé, através de ajuda e desenvolvimento do trabalho. De forma semelhante, a Igreja precisa agir sobre estes princípios bíblicos e promover a liberdade religiosa para todos. Os cristãos devem estar na vanguarda de ajudar as pessoas em seus momentos de necessidade; falta de comida ou falta de liberdade por suas crenças.

Além disso, lutando por pessoas que livremente acreditem ser o mais forte testemunho do amor de Deus que a igreja pode mostrar. Isso não equivale a crenças, mas assim vivemos concretamente a nossa fé por demonstrar que os cristãos vão ajudar alguém em necessidade. Isto não é dizer que todos os caminhos levam para o céu, mas agindo com confiança fora de nossas próprias convicções, mostrando o amor de Cristo aos oprimidos na hora de sua necessidade e estar de pé com eles.

Em conclusão, a igreja global precisa de uma nova estratégia para contra a crescente onda de restrições à liberdade religiosa e aumento da violência. Para enfrentar este desafio em expansão, é necessária uma resposta expansiva, Uma decisão firme em favor da liberdade religiosa para todos. Vamos servir ao lado dos oprimidos como uma demonstração do amor incondicional de Deus por todas as pessoas.

 

Entrevista com Knox Thames:

ANAJURE – Porque é importante defender a liberdade religiosa? O que vai acontecer se nós a negligenciarmos?

Knox Thames – Defender a liberdade religiosa para as pessoas de qualquer religião ou aquelas que não acreditam é extremamente importante. Devemos defender esta liberdade porque ela é um direito humano fundamental. Além disso, se não atentarmos para ela, as sociedades serão menos produtivas e mais propensas ao extremismo religioso violento. A liberdade religiosa é importante para os direitos humanos e a segurança internacional.

A – É comum ver perseguição por motivos religiosos em várias partes do mundo. Por que o senhor começou um novo movimento?

KT – Eu escrevi o artigo para encorajar os cristãos a iniciar um novo movimento. Eu acredito que há uma necessidade de uma nova abordagem, já que a igreja tem geralmente focado em outros cristãos. Em face da crescente perseguição que impacta cristãos e outros, há uma necessidade de se fazer mais. Eu escrevi o artigo para encorajar os cristãos a pensar em traçar um novo caminho, um novo movimento, que defende a liberdade religiosa para todos e em todos os lugares. Os cristãos estão sofrendo, mas outros grupos religiosos sofrem da mesma forma. Nós devemos estar apostos para quem está sofrendo.

A – Na sua opinião, qual é a razão para o aumento de ataques contra prédios e símbolos religiosos?

KT – Ataques a locais de culto por parte de grupos extremistas são usados para matar membros de comunidades religiosas minoritárias. Mas também tem um poderoso efeito psicológico de intimidação por atacar os próprios símbolos de suas comunidades.

A – Por que o senhor diz que a liberdade religiosa deve ser uma prioridade para a Igreja?

KT – A igreja tem um histórico maravilhoso de ajudar as pessoas em necessidade, como por meio de alívio de desastres e programas de alimentação. Cristãos fazem isso como um testemunho do amor de Deus para todas as pessoas, e esses grupos cristãos jamais recusariam um alimento a uma pessoa faminta firmada em sua religião. No entanto, sobre a liberdade religiosa, a igreja tem geralmente sido estritamente focada apenas em cristãos. A igreja precisa defender a liberdade religiosa de qualquer pessoa a ser perseguida, com base no chamado de Deus para os cristãos a "buscar a justiça" e "amar o teu próximo como a ti mesmo." Se o fizer, será um claro testemunho do amor de Deus para todos e ao mesmo tempo, assegurar o futuro da igreja, aumentando o espaço para discussões religiosas e crenças. 

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POR: ANAJURE l Press Officer – Angélica Brito

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