A Liberdade Religiosa como um dos maiores desafios do Myanmar. IPPFoRB está atento à questão

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Cardeal Charles Maung Bo, primeiro Cardeal Católico do Myanmar, no Parlamento do Reino Unido, em Londres, dia 25 de maio de 2016.


O primeiro Cardeal Católico do Myanmar afirmou que a proteção da liberdade de religião ou de crença para todos é um dos maiores desafios a ser enfrentado pelo país. Este tema, inclusive, será novamente debatido no encontro anual do Painel Internacional de Parlamentares para Liberdade Religiosa ou de Crença (IPPForB), que terá uma nova edição no mês de setembro deste ano em Berlim, Alemanha.

“Nós precisamos desesperadamente defender os direitos sem discriminação, a fim de proporcionar direitos iguais a todos os habitantes de Myanmar, de qualquer etnia ou religião”, destacou o Cardeal Cardinal Charles Maung Bo, durante sua fala ao Parlamento Britânico em Londres, no dia 25 de maio.

“Liberdade de religião ou crença […] é talvez o direito humano mais fundamental de todos”, ele afirmou. “A verdadeira paz e a real liberdade nos levam a uma questão que ainda precisa ser discutida: o respeito à diversidade étnica e religiosa existente no Myanmar […]. Sem o direito à possibilidade de escolha, manifestação, troca e sem a liberdade de compartilhar a sua crença, não existe liberdade.”

“A maioria dos moradores das regiões de Kachin, Chin, Naga e Karenni e uma significante parte de Karen são cristãos – e durante as décadas de conflito armado, os militares transformaram a religião em uma ferramenta de opressão”, disse o Cardeal. “No Estado de Chin, por exemplo, as cruzes cristãs foram destruídas e os cristãos moradores daquela região forçados a construírem pagodes budistas em seus lugares. No último ano, duas professoras cristãs foram sequestradas e assassinadas. Pelo menos 66 igrejas em Kachin já foram destruídas desde que o conflito foi reativado em 2011.Muitos têm sido mortos nos conflitos étnicos e religiosos no Myanmar, e milhares têm sido deslocados”, afirmou.

O Cardeal Bo solicitou ao novo governo, no poder há dois meses, que convidasse o Relator Especial das Nações Unidas sobre Liberdade Religiosa ou Crença a visitar o país, e alertou a respeito do conjunto de leis propostas pelo governo afastado, conhecido como “Leis de Proteção à Raça e à Religião”. Ele disse que essas leis, que restringem o direito à conversão religiosa e ao casamento interconfessional “representam um grande perigo ao país”. “Esses direitos tão básicos – com quem casar e no que crer – estão entre os direitos mais fundamentais dos ser humano, contudo, essas novas leis pretendem limitar tais direitos.” “Essas leis ameaçam o sonho de Myanmar unido”.

O Cardeal Bo também alertou acerca da ameaça do budismo nacionalista, especialmente por meio do grupo “Ma Ba Tha” e ainda afirmou estar profundamente preocupado com a seção do Código Penal Nacional (seção 295) relacionada ao insulto religioso.

“Embora ter sido originalmente introduzida no período colonial com a intenção de prevenir conflitos entre as religiões, esta lei atualmente tem sido utilizada para silenciar as críticas contrárias ao nacionalismo budista”, constatou o Cardeal. “Htin Lin Oo, um budista, criticou os pregadores do ódio, dizendo que as suas mensagens eram incompatíveis com os ensinos do budismo. Com isso, ele foi acusado de insultar a religião budista, tendo permanecido preso por dois anos e liberado no ultimo mês. ”

O Cardeal também destacou o empenho dos muçulmanos Rohingya, cujas lutas ele chamou de “uma cicatriz terrível na consciência do meu país”. “Eles estão entre os mais marginalizados e perseguidos de todo o mundo. Eles são tratados de forma pior do que animais. Despojados de suas cidadanias e rejeitados pelos países vizinhos, são caracterizados como apátridas. Nenhum ser humano merece ser tratado dessa forma. Sem uma solução, as perspectivas para uma paz genuína e verdadeira para o meu país serão escassas. Ninguém consegue dormir à noite tendo a consciência que um particular grupo de pessoas está morrendo simplesmente em razão de sua raça ou religião.”

 

A nação “arco-íris”

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O pagode budista Schwedagonpagode, localizado na antiga capital, Yangon, é o maior do país.


Bo disse que Myanmar é uma “nação arco-íris […] uma nação bela formada por diversas etnias e religiões”. Ainda complementou afirmando a Igreja Católica ser um exemplo representativo disso, com seguidores de diferentes grupos étnicos. Afirmou também que a igreja de Myanmar por muito tempo esteve no lado dos marginalizados.

“Em meio a isso tudo, onde está a Igreja Católica do Myanmar?”, indagou o Cardeal. “Eu posso falar com convicção que, pelo menos até agora, nós estamos onde o governo não está. Nós estamos em meio aos miseráveis; estamos nos campos com as pessoas deslocadas; estamos trabalhando com nossos amigos em meio as comunidades muçulmanas e budistas a fim de promover a harmonia entre as diferentes religiões; estamos promovendo educação, assistência médica e formas de sustento; estamos defendendo o nosso povo.”

Por fim, o Cardeal Bo apelou ao governo para rejeitar as novas leis sobre raça e religião; para acabar com a epidemia de drogas e aliviar a pobreza.

Nenhuma sociedade pode ser verdadeiramente democrática, livre e pacífica se não respeitar a diversidade política, racial e religiosa, como também proteger os direitos humanos fundamentais de todas as pessoas, independente de raça, religião ou gênero.

O Cardeal disse que o governo deveria seguir o exemplo de Jesus “se entregar para que outros possam ser libertados”.

“Contrários ao fundamentalismo do ódio, devemos criar um contra-fundamentalismo do amor. Meu país tem emergido de uma longa noite de lágrimas e tristeza à um novo amanhecer. Depois de sofrermos a crucificação como nação, estamos iniciando a nossa ressurreição. Entretanto, a nossa jovem democracia ainda é frágil, e os direitos humanos continuam sendo abusados e violados. ”

“Somos uma nação ferida, que ainda sangra. Para as minorias étnicas e religiosas, esta é uma verdade particular e é por isso que eu concluo enfatizando que nenhuma sociedade pode ser verdadeiramente livre e pacífica se não respeitar a diversidade política, racial e religiosa; bem como proteger os direitos humanos fundamentais de todas as pessoas, independente de raça, religião ou gênero.”

“Nós somos uma nação arco-íris, com diferentes etnias, culturas, idiomas e religiões. Esta é a beleza que precisa ser protegida, defendida e fortalecida.” Para finalizar, o Cardeal declara “Eu acredito verdadeiramente que a chave para a harmonia e a paz entre as mais diversas religiões está no mais fundamental de todos os direitos: o direito à liberdade de religião ou crença para todas as pessoas.”

 

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Fonte: World Watch Monitor
Tradução: Natammy Bonissoni l ANAJURE

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