6 passos para ser um "refugiado" em seu próprio país

marelia_stages1

Visão dos terrenos de Mar Elia em Ankawa, Arbil, quando os refugiados começavam a entrar na igreja ll Open Doors International

Dezenas de milhares de famílias cristãs foram perseguidas mesmo em suas próprias casas no nordeste do Iraque quando os jihadistas do Estado Islâmico invadiram a planície de Nínive no verão de 2014. Inicialmente, eles esperavam retornar dentro de poucos dias. Mas os dias se tornaram em semanas, semanas em meses e os meses em anos.

O World Watch Monitor traça seis “passos” ou “estágios” desde o início até seu esperado retorno com a antecipada “libertação” da planície neste outono e mostra como Mar Elia Church, em Arbil, se transformou desde a primeira vez que recebeu os desabrigados durante a noite. Cada etapa dá esperanças de condições de vida mais estáveis.
Tecnicamente, um “refugiado” é alguém que atravessou a fronteira do seu país, por isso estes cristãos são “deslocados internos” (PDIs).
– Passo 1 – Em fuga (Junho de 2014)
marelia_stages2

Pessoas dormiram aqui durante a primeira noite ll Open Doors International

Quando EI assumiu Mossul, muitos iraquianos pegaram os poucos pertences que podiam carregar e foram embora. Minorias – Yazidis, Shabak e Cristãos – receberam opções: ir embora, converter-se ao Islã ou morrer pelo fio da espada. (especialmente os Yazidis pagaram um preço alto, com milhares deles estuprados, sequestrados ou mortos).

O califado do Estado islâmico foi proclamado em Mossul. Nas semanas seguintes, a planície de Nínive, em torno de Mossul, com sua alta concentração de cristãos, foi rapidamente tomada pelo EI. Enquanto mais de 120 mil cristãos fugiam, muitos viram ser roubados tudo o que tinham.

A maioria fugiu para as cidades curdas próximas e foi assim que chegaram à capital curda, Arbil. As pessoas estavam dormindo em ruas, parques e centros comerciais inacabados em pisos de concreto. “O sofrimento que vemos aqui é inacreditável e me faz chorar toda vez”, disse uma testemunha ocular. “Vejo os rostos desesperados dos velhos e das mães que vêm recolher comida e sinto muito por eles”.

– Passo 2 – Barracas temporárias (Agosto de 2014)

marelia_stages3A “Tenda Jesus” logo apareceu no terreno ll Open Doors International

As igrejas locais desempenharam um papel fundamental ao oferecer a primeira ajuda. Eles utilizaram todos os seus recursos para abrigar tantos cristãos deslocados quanto pudessem. Pastores, sacerdotes e freiras sacrificavam tudo o que podiam para ajudar as pessoas. O mesmo era verdade para o santuário de Mar Elia. Em seu antigo complexo de igrejas, semelhante a um parque, surgiu um acampamento improvisado, oferecendo acomodação temporária para centenas. Caridades locais e pessoas de boa vontade ofereceram alívio de emergência no calor escaldante.

– Etapa 3 – tendas de Inverno (dezembro de 2014)
marelia_stages4

Com o inverno, as barracas tornaram-se mais à prova de intempéries ll Open Doors International


O inverno aproximou-se e as temperaturas em Arbil caíram muito. 

Com frio congelante à noite, a vida tornou-se muito difícil para as famílias deslocadas nas tendas frágeis de lona. Pouco antes do Natal, a igreja foi capaz de substituir as tendas improvisadas por “tendas de inverno” mais confortáveis, proporcionando calor e proteção. Rumores de que a batalha por Mossul estava se aproximando e de que os deslocados poderiam retornar em breve às suas casas ajudaram os de Mar Elia a sobreviverem ao inverno.

– Passo 4 – Cabanas (Abril de 2015)

marelia_stages5

As cabines tinham cozinha compartilhada e instalações sanitárias ll Open Doors International

Tornou-se claro que ninguém foi capaz, ou que desejava, pelo menos por enquanto, retirar o EI dali. Cristãos em Arbil se prepararam para um deslocamento “mais permanente”.

Novos abrigos semi-permanentes na forma de cabanas definiram este período. Cada cabana ou caravana, como são chamadas localmente, abriga seis pessoas. Instalações como banheiros, cozinhas e lavabos são do lado de fora e têm que ser compartilhados.

As caravanas provaram ser tão multiuso como tijolos de Lego. Dentro de meses, casas, escolas e até igrejas foram construídas a partir delas em todo o Iraque curdo. Elas podem ser aquecidas no inverno e resfriadas no verão. Será o próximo passo para os cristãos iraquianos voltarem para casa?

– Passo 5 – Apartamentos (Setembro de 2016)

marelia_stages6

Os apartamentos mantidos pela Igreja ofereciam uma privacidade maior ll Open Doors International

Em todo o acampamento, as famílias limpavam suas caravanas e empilhavam seus colchões, geladeiras e sacos de roupas em caminhonetes fornecidas pela igreja. Relatos de um Mossul em breve livre se manifestaram.

As caravanas foram habitadas por mais tempo do que se esperava. O deslocamento em curso, a falta de higiene e a falta de privacidade no campo forçaram a igreja a encontrar alternativas para alojar as famílias em apartamentos alugados, oferecendo-lhes mais privacidade e conforto. Uma família que se mudou para um apartamento expressou seus pensamentos sobre isso.

O avô Nasser (74) advertiu: “Quando as pessoas virem fotos, verão uma boa casa com móveis agradáveis. Talvez elas pensem que está tudo bem agora, que esses cristãos estão assentados.” 

“Por favor, entenda que assim que a igreja parar de nos sustentar, não teremos nada, a não ser as roupas do corpo, por isso esperamos e oramos para que este seja um lar temporário. Ainda queremos voltar para nossas casas e viver em paz “.

– Passo 6 – Restituindo a cruz (outubro de 2016)
Os rumores finalmente se mostraram verdadeiros. O empurrão para recuperar Nínive estava em andamento. Houve lágrimas, os soldados oraram e os padres cantavam: o momento pelo qual os cristãos iraquianos oraram. Em poucos dias várias aldeias cristãs foram reivindicadas de volta do EI.
marelia_stages7

Cruzes improvisadas foram colocadas em igrejas atacadas por vândalos ll Open Doors International

Corajosamente, um punhado de padres entraram em seus carros e dirigiram de volta para suas aldeias abandonadas para replantar a cruz cristã em suas igrejas – anteriormente removido pelo EI- e rezar lá novamente. 

“Estou tão feliz que posso fazer isso, estou sorrindo de orelha a orelha e eu choro lágrimas de alegria, ao mesmo tempo. Esta é a viagem pela qual eu tenho orado há dois anos” Disse um deles.

Os cristãos deslocados em Arbil estavam colados às suas TVs. A maioria deles não se atreve a retornar até que toda a planície de Nínive, incluindo a segunda cidade do Iraque, Mossul, esteja segura. Mas agora mais do que nunca a esperança está viva.

– Passo 7 – Voltar para casa?

Muitas famílias cristãs recuperaram a esperança. Elas oram para poder voltar às suas casas em breve. Muitos também salientam que a perseguição não começou com o EI. E eles não esperam que isso termine com a derrota do EI.

marelia_stages8
As pessoas anseiam por voltar pra casa neste Natal ll Open Doors International

Por décadas, os cristãos no Iraque sofreram vários tipos de opressão. Não há “soluções rápidas” ou “soluções fáceis”. Eles esperam por um futuro no qual eles possam viver em paz e adorar livremente.

Em apoio a isto, uma petição global foi iniciada, assinada por milhares de pessoas, pedindo aos governos e à ONU que assegurem que os cristãos e outras minorias no Oriente Médio gozem do direito à igualdade de cidadania, dignidade e um papel proeminente na reconstrução de comunidades destruídas. Veja no site: One Million Voices of Hope.

_______________________________________
Fonte: World Watch Monitor
Tradução: Andressa Toscano l ANAJURE

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here